Tenho como objetivo apresentar vida, método de ensino, e obras de um homem que marcou
a história da educação com sua busca por seus ideais, e seu amor pela arte de
se viver, de lecionar dentro de um parâmetro que envolve a cultura e a vida de seus
alunos não é uma tarefa que classificamos como simples, muito pelo contrario,
sua complexidade se dá devida a grandeza deste homem que desde sua infância
superou diversos obstáculos por possuir em si mesmo a ânsia por um saber
libertador baseado não apenas em conhecimentos didáticos, mas em um
conhecimento critico do mundo que nos envolve.
Busco
através deste singelo trabalho - e digo isso porque de fato considero quase
impossível descrever tudo que li e tudo que aprendi assim como a profundidade
dos conceitos deste criador em tão poucas páginas, que os que lerem se
emocionem e se identifique. Freire não é apenas mais um homem que passou pela vida, ele a escreveu, não
apenas para si mesmo mais para todos os da sua época e gerações futuras.
Paulo
Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, no bairro de Casa Amarela, no Recife,
capital de Pernambuco.
Foi um dos quatro filhos de um
pai oficial da policia militar (Joaquim Temístocles Freire) e de uma mãe bordadeira
(Edeltrudes Neves Freire, mais conhecida como Dona Tudinha). Viveu a infância e
a juventude em uma Família não propriamente pobre ao extremo, mas “de poucas
posses”, como era costume dizer-se então. Desde cedo viveu o desejo de
aprender. Antes de ir para a escola, começou a se alfabetizar em casa, com a
ajuda de sua mãe que o ensinava escrevendo palavras na terra à sombra de uma
mangueira que havia no quintal, com o auxilio de gravetos (o que viria a ser
mais tarde a lembrança mais antiga que Paulo Freire teria de sua infância).
Quando ele entra pela primeira vez em uma sala de aula já quase sabia ler e
escrever.
Como acontecia com muitos meninos de seu tempo, Paulo Freire
iniciou os seus estudos numa pequena escola na casa da própria professora.
Eunice Vasconcelos era o seu nome, (com quem ele manteve contato mesmo em seu
exilio) mais tarde, ele dedicou doces páginas de lembranças a ela. Com 10 anos
de idade, mudou-se com a família para a cidade de Jaboatão dos Guararapes,
próximo de Recife.
Perdeu o pai quando tinha treze anos. As condições
financeiras da família agravaram-se; esse foi outro motivo pelo qual ele se
atrasou em seus estudos do “curso primário” e apenas aos dezesseis anos,
ingressou no ginásio.
“Eu fiz a escola primária exatamente no período mais duro da
fome. Não da “fome” intensa, mas de uma fome suficiente para atrapalhar o
aprendizado. Quando terminei meu exame de admissão, era alto, grande, anguloso,
usava calças curtas, porque minha mãe não tinha condições de comprar calças
compridas. E as calças curtas, enormes, sublinhavam a altura do adolescente. Eu
consegui fazer, Deus sabe como, o primeiro ano do ginásio com 16 anos. Idade
com que meus colegas de geração, cujos pais tinham dinheiro, já estavam entrando
na faculdade. Fiz esse primeiro ano de ginásio num desses colégios privados, em
Recife: em Jaboatão só havia escola primária. Mas minha mãe não tinha condições
de continuar pagando a mensalidade e, então, foi uma verdadeira maratona para
conseguir o colégio que me recebesse com bolsa de estudos. Finalmente encontrou
o Colégio Osvaldo Cruz e o dono desse colégio, Aluízio Araújo, que fora antes
seminarista, casado com uma senhora extraordinária, a quem eu quero um imenso
bem, resolveu atender ao pedido de minha mãe. Eu me lembro que ela chegou em casa
radiante e disse: “Olha, a única exigência que o Dr. Aluízio fez “é que você
fosse estudioso”.
(declaração
de Paulo Freire)
O começo de uma carreira.
Quando era ainda um estudante de escola, o menino Paulo iria
começar a descobrir uma das “paixões” que o acompanhariam por toda a vida: a
palavra, o seu valor, seus segredos, seus mistérios. Entre os anos da
adolescência e os da juventude dedicou-se por conta própria a estudos de
filologia e de filosofia da linguagem. Antes mesmo de completar o seu curso na
Faculdade de Direito do Recife, Paulo Freire já lecionava Língua Portuguesa.
Anos mais tarde, ele demarcou assim o período da descoberta de seu desejo de
tornar-se um educador:
“Em algum momento, entre os 15 e os 23 anos, descobri o ensino
como minha paixão.
Antes de mais nada, devo dizer que ser um professor tornou-se
uma realidade, para mim, depois que comecei a lecionar. Tornou-se uma vocação,
para mim, depois que comecei a fazê-lo. Comecei a dar aulas muito jovem, é
claro, para conseguir dinheiro, um meio de vida; mas quando comecei a lecionar,
criei dentro de mim a vocação para ser um professor.
Eu ensinava gramática portuguesa, mas comecei a amar a beleza da
linguagem. Nunca perdi essa vocação.
...
Ensinando, descobri que era capaz de ensinar e que gostava muito
disso. Comecei a sonhar cada vez mais em ser um professor. Aprendi como
ensinar, na medida em que mais amava ensinar e mais estudava a respeito.”
Aos vinte e dois anos de idade, Paulo ingressou na Faculdade
de Direito do Recife. Depois de formado, ele praticamente não exerceu a
profissão de advogado. A educação, a escola e a sala de aula o chamariam cedo e
para toda a vida. Nesse período, conheceu a professora primária Elza
Maia Costa Oliveira, alfabetizadora, cinco anos mais velha do que ele, com quem
se casou em 1944, e teve cinco filhos – Maria Madalena, Maria Cristina, Maria
de Fátima, Joaquim e Lutgardes.
Ainda nessa época, o mesmo Colégio Oswaldo Cruz que
o acolheu como bolsista na adolescência contratou-o como professor de língua
portuguesa.
Sua “carreira” de advogado resumiu-se a uma única
causa:
“Tratava-se
de cobrar uma dívida. Depois de conversar com o devedor, um jovem dentista
tímido e amedrontado, deixei-o ir em paz. Ele ficou feliz por eu ser advogado,
e eu fiquei feliz por deixar de sê-lo.”
(Moacir Gadotti, Paulo Freire: uma
biobibliografia, 1996.)
Em
1947, Paulo Freire assume o cargo de Diretor do Setor de Educação do SESI do
Recife - Serviço Social da Indústria, onde travou contato com a questão da
educação de adulto-trabalhadores e percebeu a necessidade de executar um
trabalho direcionado à alfabetização. Estudando as relações entre alunos,
mestres e pais de alunos do SESI, Paulo Freire conheceu a realidade dos
trabalhadores e as particularidades da sua linguagem. Entendeu que educar era,
sobretudo, discutir as condições materiais de vida do trabalhador comum.
Dedicou-se a estudar a linguagem do povo, consolidando seus trabalhos em
educação popular. Sua primeira experiência como professor universitário foi na
Escola de Serviço Social, lecionando Filosofia da Educação. Doutorou-se em
Filosofia e História da Educação em 1959, com a tese ”Educação e Atualidade
Brasileira”. No início dos anos 60 engajou-se nos movimentos de educação
popular, entre eles o Movimento de Cultura Popular (MCP), a campanha “De Pé no
Chão Também se Aprende a Ler” e a Campanha de Alfabetização de Angicos
(alfabetização de 300 trabalhadores rurais em 45 dias), ambas no Rio Grande do
Norte, e coordenou o Programa Nacional de Alfabetização, do Governo Goulart.
Ler Palavras e Ler o
Mundo:
O Método de
Alfabetização de Paulo Freire
O “Método” obedece às normas metodológicas e linguísticas,
mas, desde o princípio dos anos 60, Paulo Freire e sua primeira equipe de
educadores nordestinos trabalhavam na criação de um novo sistema de trabalho na
alfabetização e na educação continuada de jovens e de adultos. Eles sabiam que
os velhos modelos de alfabetização, baseados em cartilhas e em trazer para o
mundo do adulto as formas de trabalho didático com crianças, em nada
correspondiam às ideias de uma educação
libertadora. Formar pessoas educadas e conscientes exigia a compreensão
do processo ensino-aprendizagem do educador-alfabetizador para o
educando-alfabetizando. Assim, ainda em 1958, apresentou os seus primeiros
esboços do que viria a ser o novo “método de alfabetização”, em um Seminário
Regional realizado no Recife.
Em 1962, o governador do Rio Grande do Norte convidou Paulo
Freire e sua equipe para aplicar o método de alfabetização recém-criado em uma
região do sertão do Nordeste.
A pequena cidade de Angicos foi escolhida e ali, ao redor de
um primeiro “Círculo de Cultura”, eles viveram com entusiasmo uma experiência
pioneira de alfabetização de trabalhadores rurais iletrados, jovens e adultos.
Os primeiros resultados foram muito animadores. Antes dessa, outra
experiência-piloto havia sido realizada em Recife.
A ideia de uma tão rápida aprendizagem do ler-e-escrever
logo em seguida seriam revista por Paulo Freire e seus companheiros de equipe.
Em um tão curto tempo, os alfabetizados adultos chegaram a um nível de
alfabetização elementar, aquela em que a pessoa reconhece letras e palavras
leem frases e escreve pequenas mensagens. Mas, mesmo com o emprego de um método
tão inovador, bastante mais tempo é necessário para que o estudante passe de um
nível elementar a um nível mais complexo. Este é alcançado quando a pessoa
aprende a ler e a escrever com fluência, compreende de maneira pessoal o que lê
e sabe dar ao que escreve e lê uma interpretação adequada e própria.
Existem muitos métodos de alfabetização e de escolarização
primárias de jovens e de adultos. O que haveria então de tão novo e diferente no
Método Paulo Freire? Deixemos que o seu autor nos revele.
Ao invés da escola noturna para adultos, em cujo conceito há
certas conotações um tanto estáticas, em contradição, portanto, com a dinâmica
do trânsito, lançamos o círculo de cultura. Como decorrência superou o
professor pelo coordenador de debates. O aluno pelo participante do grupo. A
aula pelo diálogo. Os programas por situações existenciais, capazes de, desafiando
os grupos, levá-los, pelos debates das mesmas, a posições mais críticas.
Visualizemos um professor que, ao invés de se colocar diante
de seus alunos com uma cartilha já toda escrita e trazida de longe, e com uma
aula “pronta”, comece a trabalhar com os outros “participantes do círculo” a
partir de um material de estudo – as palavras geradoras – como um primeiro
momento de sua alfabetização. Um material básico de alfabetização constante de
palavras e de imagens que “falam” a linguagem da vida e da cultura do lugar.
Falam o que é de todos ali, porque foram “levantadas” em uma pesquisa do
“universo vocabular” e do “universo temático” junto às pessoas “do lugar”.
Podemos imaginar uma “aula” em que, em lugar da oposição tão
comum entre um professor que sabe (ou pensa que sabe) e uma “turma de alunos”
que não sabe (ou pensa que não sabe), o que existe é um encontro de
participantes da pequena “comunidade aprendente”.
Uma equipe de trabalhos à volta do ensinar-e-aprender
motivada a uma intensa troca de vivência e de ideias. Um grupo de
educandos-educadores e de educadores-educandos no qual quem ensina aprende
também e quem aprende sempre tem também algo a ensinar.
Um cenário do “trabalho de aprender” onde ninguém ensina a
ninguém, mas todos aprendem uns com os outros e todos entre todos. Ali, onde os
participantes ensinam e aprendem porque não trabalham com saberes “de fora”,
trazidos a eles, mas operam saberes integrando o que “vem de fora” com as suas
próprias vivências, com os seus conhecimentos, com a sabedoria da cultura
popular que eles próprios vivem dia a dia e continuamente criam e transformam.
Pensemos uma vivência de alfabetização em que, em lugar de
se aprender apenas a ler e a escrever palavras de uma maneira instrumental e
mecânica chega-se, a saber, ler-e-escrever palavras por meio do aprendizado de
um diálogo crítico e criativo com os outros, “ao vivo”, e também com os textos
escritos. Um círculo de trocas de saberes em que se aprende a ouvir e a falar,
ao mesmo tempo em que se aprende a ler e a escrever Pois, na verdade, só
aprendemos a compreender o que lemos do que alguém deixou por escrito quando
aprendemos também a partilhar com outras pessoas as suas ideias.
Quando as acolhemos em nossos silêncios e as ouvimos de
maneira atenta. Aprendendo a ouvir o outro e a respeitar as suas ideias, cada
um aprende também a “dizer a sua palavra”, como gostava tanto de enfatizar
Paulo Freire.
E esse é o caminho por onde viaja quem, ao mesmo tempo em
que aprende a ler-e-escrever palavras e ideias aprendem a “ler” e a compreender
a realidade da vida que vive e do mundo onde vive. Aprende não apenas a
conhecer com inteligência como a sociedade é, mas aprende também a compreender
com a consciência por que ela é assim, como ela foi sendo feita assim e o que é
necessário fazer para que ela seja transformada.
Podemos por um momento “trabalhar” com algumas palavras
iniciadas sempre com a letra “S”, e com elas poderíamos lembrar que aprendemos
tudo o que nos é significativo e transformador, envolvendo nesse aprendizado as
nossas sensações – visão, audição, olfato, tato e tudo o mais que abre ao mundo
as nossas janelas; as nossas sensibilidades – afetos, emoções, sentimentos;
nossos saberes – tudo o que aprendemos e integramos em nós como “aquilo que
sabemos”; os nossos sentidos de vida – os valores, os princípios, os preceitos
que nos dizem quem somos, como devemos ser e como devemos conviver; nossos
significados – as ideias que temos sobre o mundo em que vivemos e sobre como
ele deveria ser; e até mesmo as nossas sociabilidades – a nossa vocação de criarmos
juntos o mundo em que vivemos e de o transformarmos para vivermos nele.
Aprendemos uns com os outros, envolvendo todas essas
dimensões de nosso ser, viver, sentir e aprender, em nossas “trocas do saber”.
E aprendendo por meio do diálogo e da partilha de saberes, não aprendemos
apenas “coisas”, “conteúdos” ou “conhecimentos”.
Aprendemos a sentir, a sensibilizar e a convivializar (viver
com o outro), buscando novos sentidos de vida e novos significados para as
nossas ações. Todo o saber que de fato vale alguma coisa é o conhecimento que
de alguma maneira me transforma em um ser melhor.
Sabemos já que os anos entre 1960 e 1964 foram tempos de uma
intensa mobilização e criatividade social no Brasil. No campo das artes, das
ciências, das ações sociais de vocação transformadora, assim como no da
educação, em raras outras ocasiões estudou-se tanto, inovou-se tanto, debateu-se
tanto, experimentou-se tanto e tentou-se criar o novo com tanta intensidade e
com tamanha emoção.
Nasceram nesse período várias alternativas do que vieram a serem
as inovações de outra pedagogia. Surgiram e multiplicaram-se as experiências
brasileiras e latino-americanas de ação social, as criações de movimentos
sociais e de frentes populares de causas e de lutas, a nova “música popular
brasileira”, o cinema novo, as novas experiências literárias, o teatro do
oprimido e outras variantes de teatro popular. Muito do que veio a frutificar
nos anos de fogo da ditadura nasceu nessa curta, esperançosa, sofrida e tão ainda
presente época de nossa história. Paulo Freire esteve sempre na frente de tudo
o que acontecia e dos movimentos que queriam a transformação social. Pagaria
caro por essa ousadia.
Em 1958 o professor Paulo foi o relator de um documento da
Comissão Regional de Pernambuco a respeito da educação no Estado. Em A
Educação de Adultos e as Populações Marginais, ele já se revelava um
fecundo pensador revolucionário. Desde seus primeiros artigos, as marcas de
crítica social e de criatividade pedagógica eram evidentes.
Depois das experiências de Angicos com o método de
alfabetização, durante o governo de João Goulart, Paulo Freire recebeu do
Ministro da Educação, Paulo de Tarso
Santos, um novo e mais amplo desafio: o de criar, implantar e coordenar o
Programa Nacional de Alfabetização. Tratava-se de pensar e colocar em prática
um trabalho popular de alfabetização em escala nacional, a partir dos promissores
resultados obtidos com a aplicação do Método Paulo Freire de Alfabetização no
Nordeste.
Os Anos do Exílio: A
Pedagogia do Oprimido
Quando o Programa Nacional de Alfabetização estava quase
pronto para ser posto em marcha aconteceu no Brasil o golpe militar de 1964.
Criado por decreto- lei em janeiro desse ano, o “Programa” foi extinto em
abril. Os movimentos de cultura popular foram colocados sob suspeita e
fortemente reprimidos, tal como aconteceu também com outros movimentos e
frentes de mobilização e de luta popular no campo e na cidade.
As ideias e as propostas político-pedagógicas de Paulo
Freire eram então bastante conhecidas.
Ele era convidado a dialogar com educadores populares de
norte a sul do Brasil. No interior de um amplo universo de trabalhos
pedagógicos e políticos e de cultura popular, que em todo o país mobilizava
artistas, estudantes, educadores, cientistas, religiosos e educadores, além de
inúmeras lideranças populares, Paulo Freire se tornou em pouco tempo uma
referência essencial. E foi justamente a ousadia de suas ideias e propostas que
o levou ao exílio.
Ainda no ano de 1964, por duas vezes, no Recife, Paulo foi
“convidado a explicar-se”; primeiro aos acadêmicos e, depois, aos militares,
respondendo a inquéritos administrativos e policial-militar. Mesmo sem haver
culpa formal alguma a seu respeito, ele permaneceu detido durante setenta dias.
Com 43 anos, cinco filhos, uma carreira promissora pela
frente e o sentimento de que, mais do que nunca, cada uma de suas palavras e
gestos continha um profundo sentido e falava de uma enorme urgência, ele se viu
obrigado a pedir asilo junto à Embaixada da Bolívia. Viajou para lá sozinho e a
família uniu-se a ele meses mais tarde. Era o mês de setembro. De algum modo,
Paulo e Elza sabiam que haveriam de viver longos anos longe do Brasil. De fato,
eles retornariam definitivamente ao país apenas em 1980.
Ele
viveu neste país até abril de 1969, quando foi convidado para lecionar nos
Estados Unidos e também para atuar no Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra,
Suíça. Aceitou os dois convites, permanecendo inicialmente 10 meses em Harvard,
onde deu forma definitiva ao livro Ação Cultural para a Liberdade. Nesse
período, escreve dois de seus livros mais conhecidos: Educação Como Prática
da Liberdade e Pedagogia do Oprimido. “Para mim, o exílio foi
profundamente pedagógico. Quando, exilado, tomei distância do Brasil, comecei a
compreender-me e a compreendê-lo melhor.”
(Trecho de uma
conversa com Frei Betto, extraída do livro Essa escola chamada vida
(pp. 56-8) – in Paulo Freire: uma biobibliográfica).
“Foi exatamente ficando longe dele,
preocupado com ele, que me perguntei sobre ele. E, ao me perguntar sobre ele,
me perguntei sobre o que fizeram com outros brasileiros, milhares de
brasileiros da geração jovem e da minha geração. Foi tomando distância do que
fiz, ao assumir o contexto provisório, que pude melhor compreender o que fiz e
pude melhor me preparar para continuar fazendo algo fora do meu contexto e
também me preparar para uma eventual volta ao Brasil.”
(Trecho
de uma conversa com Frei Betto,
extraída do livro Essa escola
chamada vida (pp. 56-8) – in Paulo Freire: uma biobibliográfica).
Ainda
no exílio, entre 1970-1980, após sua transferência para Genebra, assumiu o
cargo de consultor do Conselho Mundial das Igrejas. Como conselheiro
educacional do Conselho, Paulo Freire ganhou maior dimensão mundial. Ao lado de
outros brasileiros exilados, fundou o Instituto de Ação Cultural (IDAC), cujo
objetivo era prestar serviços educativos, especialmente aos países do Terceiro
Mundo que lutavam por sua independência. Em 1975, Freire e a equipe do IDAC
receberam o convite de Mário Cabral, Ministro da Educação da Guiné-Bissau, para
colaborarem no desenvolvimento do programa nacional de alfabetização daquele
país. A África deu a Paulo Freire e a seus colaboradores o campo prático para
experiências pelas quais eles tinham esperado tanto.
Entre 1975 e 1980,
Freire trabalhou também em São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Angola, ajudando
os governos e seus povos a construírem suas nações recém-libertadas do jugo
português, através de um trabalho de educação popular. Nesse período genebrino,
Paulo Freire “andarilhou” muito por alguns países do continente africano,
asiático, europeu, americano e da Oceania, exercendo atividades
político-educativas em vários países dos cinco continentes, mas de modo
especial na Austrália, Itália, Nicarágua, Ilhas Fiji, Índia, Tanzânia e os
países de colonização portuguesa supracitada.
ATIVIDADES
NO EXÍLIO
CHILE (novembro
de 1964 a abril de 1969)
- Assessor do
Instituto de Desarollo Agropecuário e do Ministério da Educação do Chile.
- Consultor da UNESCO junto ao Instituto de Capacitación e Investigación em
reforma Agrária do Chile. Neste país escreve Pedagogia do Oprimido que
são resultado dos seus cinco primeiros anos de exílio e expressa suas vivências
com a educação popular, de conscientização, libertação e justiça social.
ESTADOS UNIDOS (abril de 1969 a fevereiro de 1970)
- Professor
convidado da Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachussetts, onde dava
aulas sobre suas próprias reflexões.
GENEBRA
(fevereiro de 1970 a março 1980)
- Consultor do
Conselho Mundial das Igrejas - conselheiro educacional de governos do Terceiro
Mundo;
- Presidente do
Conselho Executivo do IDAC. Neste período Paulo Freire “andarilhou” pelos
continentes africano, asiático e europeu.
O RETORNO DE UM EDUCADOR SEM FRONTEIRAS
E o dia do retorno chegou afinal. Em agosto de 1979, Paulo
volta apenas por alguns dias ao Brasil. Em junho de 1980, ele volta com a
família definitivamente, para atender ao convite para ser professor da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Volta não para Recife e Pernambuco, mas para a cidade de São
Paulo, onde viverá toda a sua “vida de retorno do exílio”.
Quando já era um docente da PUC/SP, a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, Paulo foi nomeado professor da Universidade
Estadual de Campinas. Nessa universidade ele participou da fundação do Centro
de Estudos em Educação e Sociedade — CEDES.
Logo a seguir ele participará também da criação do Conselho
Latino-Americano de Educação de Adultos, do qual será sempre o “Presidente
Honorário”.
Aqueles foram momentos de um tempo de um duplo retorno: à
volta ao seu amado Brasil e o retorno à vida de professor de sala-de-aula,
atividade a que pouco ele pôde se dedicar quando no exílio na Europa, embora
por algum tempo tenha lecionado na Universidade de Genebra. Nas salas de aula,
Paulo Freire volta a conviver com estudantes.
E, de novo, colocam em prática suas ideias e seus valores
pedagógicos de sempre. Ele foi um professor que vinha dizer a sua palavra sem
impor os seus saberes, mas um docente-aprendente que se anunciava como alguém
aberto a ouvir antes de falar e a aprender ensinando.
Da mesma maneira como muitos anos antes acontecera no início
de sua carreira em Pernambuco, também em São Paulo o professor Paulo não
limitou o seu trabalho universitário e de educador aos âmbitos da academia e do
ensino superior. Ao contrário, a sua carreira continua a ser dirigida pelo
desejo de dedicar-se à alfabetização e à educação das pessoas deixadas à margem
da vida e da escola. Sua fidelidade mais intensa continuará sendo para com os
grupos e movimentos populares.
Seu vínculo com os movimentos populares permaneceu sempre
como uma prioridade de vida. Várias vezes Paulo Freire recusou convites de
instituições de renome, no Brasil e no exterior, para não faltar a um
compromisso assumido com algum movimento popular, mesmo que pequeno.
Em 1988 ele aceitou o convite de Luiza Erundina
de Souza, prefeita eleita pelo mesmo foco com jovens e adultos. Partido dos
Trabalhadores do qual Paulo Freire havia sido um dos fundadores e militantes, para
ser o Secretário de Educação do Município de São Paulo. Tomou posse do cargo em
1º de janeiro de 1989.
Uma vez mais o professor Paulo estava às voltas
com a alfabetização de jovens e de adultos. Ele e a sua nova equipe trabalharam
intensamente na criação do MOVA – Movimento de Alfabetização. Em incontáveis
locais populares da cidade de São Paulo e de sua periferia, um amplo programa
solidário de educação de jovens e de adultos foi posto em marcha. Seu método de
alfabetização, revisto e melhorado com a contribuição de outros especialistas
em alfabetização e em educação de adultos volta a serem trabalhados, tantos anos
depois das primeiras experiências no Nordeste.
A experiência do MOVA-SP se multiplicaria para
outras regiões do país, de tal sorte que até hoje, em vários governos, ela é a
escolhida como prioridade educacional na alfabetização e na educação de jovens
e adultos, em parceria com organizações da sociedade civil.
Essa experiência do MOVA-SP, liderado por Paulo
Freire, foi adquirindo novas faces. O Projeto MOVA-Brasil é um bom exemplo.
Nasceu em 2003 como proposta da Petrobras em parceria com a Federação Única dos
Petroleiros e o Instituto Paulo Freire, com o desafio de alfabetizar 40.000
alunos, formar 1.600 educadores em três anos e promover parcerias locais entre
governos municipais, associações e sindicatos para o atendimento das
comunidades.
Os diversos MOVAS criados pelo Brasil
constituíram a Rede MOVA BRASIL, que, junto com o Fórum Nacional de Educação de
Jovens e Adultos, tenta manter viva a proposta original de Paulo Freire. Em
junho de 2005 foi realizado em Luziânia, muito perto de Brasília, o V Encontro
Nacional da Rede MOVA BRASIL, um grande momento de reencontro de militantes da
educação popular libertadora. No grande palco, um painel em cores deixava ver
uma imagem de Paulo Freire, de corpo inteiro. A todo o momento ele era
lembrado.
Em outubro de 1986, Paulo perdeu Elza, a companheira de vida
e de trabalhos de educação, durante quarenta e dois anos. Elza fora uma
professora de escola e, em vários momentos, Paulo Freire confessou o quanto
devia a ela em suas ideias e em suas propostas de trabalho pedagógico.
Em março de 1988, ele se casou uma outra vez. Como em uma
dessas histórias humanas e eternas de amor, Paulo reencontrou Ana Maria Araújo
Hasche. Ela é filha de Aluízio Araújo, o professor que, muitos anos antes,
facultou ao então adolescente Paulo a conclusão dos seus estudos escolares, no
distante Recife da adolescência.
Paulo e Ana Maria se conheceram na infância dela e na
juventude dele. Ao longo de suas vidas, eles se encontraram muitas vezes, pois
foram sempre muito amigos. Quando ele era professor do Programa de
Pós-graduação da “Católica de São Paulo”, ela foi novamente sua aluna e depois
sua orientanda na elaboração de sua dissertação. Ao lado de Ana Maria – Nita,
como ele a chamou sempre –, Paulo viveu os últimos 10 anos de sua vida até nos
deixar.
No dia 2 de maio de 1997, Paulo Freire faleceu. Ele tinha 75
anos, antes de sua morte ele convivia com Nita, com os filhos e netos dela,
seus filhos e netos e seus amigos, com uma tal alegria, com uma tão grande
lucidez, com uma tamanha entrega ao trabalho, que parecia carregar bem menos
anos de idade e fadigas de vida do que realmente tinha e vivia.
Logo após a sua morte, um jornal de Pernambuco publicou uma
carinhosa caricatura. Um homem de longos cabelos e com as barbas brancas, de um
olhar jovem e doce, aparece sentado numa cadeira apoiada em uma nuvem. Dois
pequeninos anjos-crianças estão sobre as suas pernas. Com um livro nas mãos
brancas de giz e por trás dos óculos inseparáveis, ele ensina os pequenos anjos a ler.
OBRAS
A obra de Paulo Freire compõe-se de
livros escritos por ele e também em parceria com escritores brasileiros e de
outros países, como seguem:
- 1959: Educação e atualidade brasileira. Recife: Universidade Federal do Recife, 139p. (tese de concurso público para a cadeira de História e Filosofia da Educação de Belas Artes de Pernambuco).
- Paulo Freire. A propósito de uma administração. Imprensa Universitária; 1961.
- 1963: Alfabetização e conscientização. Porto Alegre: Editora Emma.
- Paulo Freire. Educação como prática da liberdade. Paz e Terra; 2000. ISBN 978-85-219-0109-9
- Paulo Freire; Raul Veloso; Luís Fiori. Educação e conscientização: extensionismo rural. CIDOC; 1968.
- Paulo Freire. Extensão ou comunicação?. Paz e Terra; 2001. ISBN 978-85-219-0427-4.
- Paulo Freire. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Paz e Terra; 2007. ISBN 978-85-7753-023-6.
- Paulo Freire. Cartas a Guine-Bissau: registros de uma experiencia em processo. Paz e Terra; 1984.
- Paulo Freire. Os cristãos e a libertação dos oprimidos. Edições Base; 1978
- 1979: Consciência e história: a práxis educativa de Paulo Freire (antologia). São Paulo: Loyola.
- 1979: Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 112 p.
- 1979: Multinacionais e trabalhadores no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 226 p.
- 1980: Quatro cartas aos animadores e às animadoras culturais. República de São Tomé e Príncipe: Ministério da Educação e Desportos, São Tomé.
- 1980: Conscientização: teoria e prática da libertação; uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 102 p.
- 1981: Ideologia e educação: reflexões sobre a não neutralidade da educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
- 1982: Sobre educação (Diálogos), Vol. 1. Rio de Janeiro: Paz e Terra ( 3 ed., 1984), 132 p. (Educação e comunicação, 9).
- Paulo Freire; Antonio Faundez. Por uma pedagogia da pergunta. Paz e Terra; 2002
- Paulo Freire; Adriano Nogueira; Débora Mazza. Fazer escola conhecendo a vida. Papirus; 1986
- Paulo Freire; Sérgio Guimarães. Aprendendo com a própria história. Editora Paz e Terra; 2000. ISBN 978-85-219-0371-0
- Paulo Freire; Adriano Nogueira; Debora Maza. Na escola que fazemos: uma reflexão interdisciplinar em educação popular. Edit. Vozes Ltda.; 1990. ISBN 978-85-326-0237-4.
- Paulo Freire; Adriano Nogueira. Que fazer: teoria e prática em educação popular. Vozes; 1989.
- Paulo Freire. Paulo Freire conversando con educadores. Ed. Roca Viva; 1990.
- Paulo Freire; Donaldo Pereira Macedo. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. Paz e Terra; 1990
- Paulo Freire, A Educação na cidade. Cortez Editora; 1991.
- Paulo Freire, A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. Cortez; 2008
- Paulo Freire. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Paz e Terra; 1997. ISBN 978-85-219-0010-8.
- Paulo Freire, Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. Olho d'Água; 2008
- Paulo Freire, Política e educação: ensaios. Cortez Editora; 1993.
- Paulo Freire, Ana Maria Araújo Freire, Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis, 2003, Editora UNESP, ISBN 978-85-7139-483-4
- Paulo Freire, Frei Betto, Essa escola chamada vida,1994, Ed. Ática, ISBN 978-85-08-02764-4
- Myles Horton; Paulo Freire; Brenda Bell. O caminho se faz caminhando: conversas sobre educação e mudança social. Vozes; 2003. ISBN 978-85-326-2815-2.
- Paulo Freire, Ana Maria Araújo Freire, À sombra desta mangueira, Olho d'Agua. 1995, ISBN 978-85-85428-15-0.
- Paulo Freire, Sérgio Guimarães, Moacir Gadotti, Pedagogia: diálogo e conflito,1986, Cortez Editora Autores Associados
- Paulo Freire, Ira Schor, Medo e ousadia: o cotidiano do professor, 1997, Paz e Terra
- Paulo Freire, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa,2009, Paz e Terra, ISBN 978-85-7753-015-1, Ver artigo Pedagogia da Autonomia
- Paulo Freire, Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos , 2000, Editora Unesp, ISBN 978-85-7139-291-5
- Paulo Freire, Sérgio Guimarães, A África ensinando a gente: Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, 2003, Paz e Terra, ISBN 978-85-219-0646-9
Dentre eles as obras mais relevantes na educação Brasileira são:
1967 – Educação como prática da liberdade
Neste livro,
Freire expõe o método de alfabetização de adultos, destaca as experiências do
método na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1962, onde 300
trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias.
1970 – Pedagogia do Oprimido
Paulo Freire descreve uma interessante discussão sobre a pedagogia
de uma perspectiva do oprimido. Destaca que a luta pela libertação do homem, o
qual é, semelhantemente à realidade histórica, um ser inconcluso, se dá num
processo de crença e reconhecimento do oprimido em relação a si mesmo, enquanto
homem de vocação para “ser mais”.
1992
– Pedagogia da Esperança
É um
reencontro com a Pedagogia do
Oprimido. As Primeiras palavras de Pedagogia da esperança mostram-nos
claramente a convicção de Paulo Freire sobre a necessidade da esperança e do
sonho para a existência humana e a necessária luta para fazê-la melhor.
1997 – Pedagogia da
Autonomia
Freire introduz Pedagogia da autonomia
explicando suas razões para analisar a prática pedagógica do professor em
relação à autonomia de ser e de saber do educando. Enfatiza a necessidade de
respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola.
2000 – Pedagogia da Indignação
Essa obra é dividida em
duas partes. Na primeira, há três cartas pedagógicas em que o autor faz um
desabafo de questões que o vem incomodando referente à educação e ao modo de
educar. Na segunda, outros desabafos sobre assuntos que também orientam e
interferem na educação e na construção crítica e ativa do sujeito.
CRONOLOGIA
1921 - Paulo
Freire nasce em Recife, no dia 19 de setembro.
1927 - Entram,
já alfabetizados, para a escolinha particular da professora Eunice Vasconcelos.
1931 - Mudança
para Jaboatão dos Guararapes/PE.
1934 - Morte
do pai quando Paulo tinha 13 anos.
1937 a
1942 - Cursa
o Ensino Secundário no Colégio Osvaldo Cruz, do Recife, onde teve seu primeiro
emprego, tornando-se, em 1942, professor de língua portuguesa do mesmo.
1943 - Ingressam
na Faculdade de Direito do Recife.
1947 - Forma-se
Bacharel em Direito.
1944 - Casa-se
com Elza Maia Costa de Oliveira.
1947 - Assume
a Diretoria da Divisão de Educação e Cultura, do SESI-Pernambuco.
1952 - Nomeado
Professor Catedrático da Faculdade de Belas Artes, da Universidade do Recife.
1954 - Foi
nomeado Diretor Superintendente do Departamento Regional de Pernambuco do
SESI-PE, cargo que ocupou até outubro de 1956.
1960 - Defende
tese e obtém o título de Doutor em Filosofia e História da Educação.
1961 - Foi-lhe
conferido o título de Livre Docente da Faculdade de Belas Artes. Tendo perdido
o cargo de docente desta Escola, foi nomeado Professor Assistente de Ensino
Superior, de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da
Universidade do Recife.
1962 - Cria e
foi o primeiro Diretor do Serviço de Extensão Cultural, da Universidade do
Recife.
1963 - Realiza
a Experiência de Alfabetização de Angicos/RN. Cria as bases do Programa
Nacional de Alfabetização, do Governo João Goulart.
1964 - Golpe
Militar extingue o Programa Nacional de Alfabetização. Prisão
no Recife. Asilo
na Embaixada da Bolívia, no Rio de Janeiro. Em
setembro parte para a Bolívia. Em
novembro segue para o Chile.
1965 - Publica
o livro Educação Como Prática da Liberdade.
1967 a
1968 - Escreve
no Chile o livro Pedagogia do Oprimido.
1969 - Muda-se
para Cambridge, Massachussetts, USA.
1970 - Transfere-se
para Genebra, Suíça, para trabalhar no Conselho Mundial das Igrejas, passa a
“andarilhar” pelos cinco continentes.
1971 - Funda,
com outros exilados, o Instituto de Ação Cultural (IDAC), em Genebra. dedica-se
de modo especial ao trabalho de educação em alguns países africanos.
1979 - Obtêm
seu primeiro passaporte e visita São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
1980 - Retorna
ao Brasil, para lecionar na PUC/SP e na Unicamp.
1981 - Participa
da fundação do Vereda - Centro de Estudos em Educação, em São Paulo.
1982 - Publica
A importância do ato de ler em três artigos que se completam, livro que
mereceu, em julho de 1990, o “Diploma de Mérito Internacional”, concedido pela
“International Reading Assocition”, na Suécia. Deste
ano até 1992, escreve os “livros falados”, isto é, livros nos quais, estimulado
por outros educadores, narrava a sua vida e explicitava as suas reflexões.
1986 - Recebe
o Prêmio UNESCO da Educação para a Paz. No dia
24 de outubro morre sua primeira esposa, Elza Maia Costa de Oliveira.
1987 - Passa
a integrar o júri internacional da UNESCO, que escolhe e premia as melhores
experiências de alfabetização do mundo.
1988 - No dia
27 de março, casa-se em cerimônia religiosa, no Recife, com Ana Maria Araújo
Hasche e, em 19 de agosto, em cerimônia civil, quando ela passa a assinar
Freire.
1989 - Assume
o cargo de Secretário de Educação da cidade de São Paulo.
1991 - Afasta-se
da SMED-SP para escrever livros. Retorna a lecionar na PUC/SP. Demite-se da
UNICAMP.
1988 a
1997 - Volta
depois de 10 anos a escrever livros autorais: Pedagogia da Esperança. Cartas a
Cristina: reflexões sobre a minha vida e minha práxis. Professora sim, tia não:
cartas a quem ousa ensinar. Política e educação. À sombra desta mangueira e
Pedagogia da Autonomia, além de outros com diversos educadores. e inúmeros
artigos e conferências.
1997 - Faleceu
no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no dia 02 de maio, vítima de um
infarto agudo do miocárdio. Deixou cinco filhos e viúva. Paulo
Freire participou durante a sua vida de fóruns e debates. Realizou milhares de
palestras e conferências. Deu pareceres sobre os mais diversos assuntos.
Concedeu entrevistas para jornais, revistas e televisão. Envolveu-se nos
movimentos sociais progressistas, entre muitas outras atividades como militante
e como intelectual. Recebeu prêmios, títulos e homenagens em todo o mundo,
entre estas 39 títulos de Doutor Honoris Causa, dos quais cinco entregues à sua
viúva.
A
partir de 2000, a sua viúva Ana Maria Araújo Freire, na qualidade de sucessora
legal da obra de Paulo Freire, organizou seus textos inéditos, nomeou-os e
publicou na “Série Paulo Freire”, da qual é diretora: Pedagogia da Indignação,
Pedagogia dos Sonhos Possíveis e Pedagogia da Tolerância.