10/19/2019

A Educação como Prática para a Liberdade


A Pedagogia do Oprimido é um dos mais conhecidos trabalhos do educador e filósofo brasileiro Paulo Freire. O livro propõe uma pedagogia crítica com uma nova roupagem de relacionamento entre professor, estudante, e sociedade propondo a dialogicidade. As questões e problemas principais da educação são questões políticas. Para ele, a educação e o sistema de ensino não modificam a sociedade, mas a sociedade é que pode mudar o sistema instrucional. O sistema educacional pode ter um papel de destaque numa revolução cultural. Ele chama de revolução a consciente participação do povo. Logo, a pedagogia crítica, como uma constante, contribui para revelar a ideologia esquecida na consciência das pessoas. Freire destaca a revolução. Mas o que pode ser feito antes da revolução? Ele propõe a distinção entre “ação cultural” e “revolução cultural”. Para ele a ação cultural é desenvolvida em oposição à elite que controla o poder e a revolução cultural ocorre em completa harmonia com o regime revolucionário.
Aspira-se sobre o oprimido e o opressor, no qual o opressor trata o oprimido como “coisa”, desumanizando-o, e o fazendo sentir-se menos do que ele realmente é. Faz críticas à educação bancária, em que o professor é o detentor do saber, sendo um mero transmissor de conteúdo, e o aluno um banco, o qual ele deposita o conhecimento e depois saca. Mas a grande questão é a aspiração do oprimido que é a de ser o opressor. Por isso é preciso reconhecer, desvelar e depois transformar o mundo pela palavra, reconquistando o seu direito ao diálogo. “Ninguém liberta ninguém, os homens libertam-se em comunhão. ”
Freire descreve o que ele acredita ser a forma de desenvolver a educação como uma prática para a liberdade. A mudança acontece pela educação libertadora, que é a ação de alfabetizar e conscientizar, sendo este um comprometimento político cultural na alfabetização, por meio de uma ação histórica autêntica e crítica, que é o ensinar junto ao aluno e não apenas para o aluno. Originado de uma situação gnosiológica, que é o conhecimento que se adquire por meio da investigação de temas geradores. A alfabetização brasileira nesta década parte de um currículo engessado que torna ainda mais desafiadora essa tarefa de educar para a liberdade. Todavia devemos ter como premissa a realidade dos educandos e problematizar o mundo deles, pois, assim como afirma Freire, se a nossa ação estiver sacrificada a palavra será vã, se a reflexão estiver sacrificada será ativismo.
A ação e a reflexão da palavra problematizam o mundo e o mundo problematizado o transforma. Na comunidade carente é assim, primeiro se conhece, por meio da palavra, do diálogo se aproxima da realidade e experiências vividas, do tema gerador, no qual deve se embasar nossas estratégias metodológicas para o processo de conscientização da realidade vivida. Ou seja, os conteúdos e projetos deveriam ser resultados de uma metodologia dialógica, em que cada indivíduo do grupo envolvido na ação pedagógica contribui com suas ideias sobre o que se quer ensinar, ainda que de maneira rudimentar. Sendo este o ponto de partida para a codificação e descodificação. A educação deve humanizar o educando e libertá-lo com a práxis, que é o ato de ação-reflexão-ação, por meio do diálogo, porque não há pedagogia sem transformação.
O educando é o protagonista, e deve estabelecer uma relação de intercomunicação, uma prática dialógica que exige coragem, humildade, compromisso e fé. Que é o crer no outro, poder criar, recriar e transformar. O homem não pode ser entendido fora de suas relações com o mundo, já que é um ser do trabalho da transformação deste. Cada educando é um indivíduo único com potencialidades inigualáveis e com experiências únicas que devem ser ouvidas, analisadas e consideradas, podendo até ser debatidas em classe para a reflexão coletiva. Na práxis a dimensão histórica das práticas é um dever e as relações sociais que são produtoras da sociabilidade humana, sendo estas fundamentais, portanto para a educação.
Essa transformação também deve libertar o oprimido de uma cultura escravista e enraizada, libertá-lo da arbitrariedade do opressor, dando-lhe voz por meio de um diálogo crítico, que independe do nível de percepção da realidade em que cada sujeito se encontra, deve buscar a consciência de ser inacabado que é. devendo adequar-se às suas necessidades reais na sociedade fazendo um movimento constante em busca da desalienação e humanização.
Sabe-se que a educação bancária já esteve mais presente, porém ainda são encontrados resquícios desse ensino depositário no qual formos formados, nos libertamos e hoje somos agentes de formação e temos como papel fundamental problematizar a realidade de nossos educandos, visando a educação como prática para a liberdade.
“Não se trata de autolibertação, mas de homens que se libertam em comunhão. ”
Sem o diálogo não há compreensão da realidade. O diálogo é capaz de gerar um pensamento crítico que impulsiona a transformação da vivencia e suas estruturas sociais, que só acontece quando há o encontro significativo com o outro e problematização de suas vivencias, no qual se solidarizam. Ele é o elemento fundamental para uma ação transformadora. A dialogicidade é um ato de amor, que está em comprometer-se com a sua causa. O amor é um diálogo, que se dá a partir de duas ou mais pessoas pela palavra. E o amor só existe se neste houver ação e reflexão para a transformação e libertação!
Finalmente, Paulo Feire (1921-1997) é distinto educador brasileiro, com atuação e reconhecimentos internacionais. Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Defensor dos menos favorecidos, que apoia o acesso à educação conscientizadora (levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação), o direito a fala de todo cidadão, uma educação moral, que independentemente da ideologia, acredita que todo cidadão é livre pensante, possuí liberdade em suas escolhas religiosas e nas suas relações sociais, defende uma educação que liberte a formadora, libertadora e construtora de conhecimento através do diálogo e respeito. Ele lutou por uma formação integral do sujeito, do ser humano em toda a sua totalidade.
Possivelmente, na atualidade, ele escreveria sobre a violência, o feminismo, o “bullying”, os pré-conceitos e corrupção. Defendendo o pensamento crítico, a liberdade, a ação, reflexão e o respeito, problematizando essas realidades na sociedade. Seu legado somos nós!

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