A Pedagogia do Oprimido é
um dos mais conhecidos trabalhos do educador e filósofo brasileiro Paulo
Freire. O livro propõe uma pedagogia crítica
com uma nova roupagem de relacionamento entre professor, estudante, e sociedade
propondo a dialogicidade. As questões e problemas principais da educação são
questões políticas. Para ele, a educação e o sistema de ensino não modificam a
sociedade, mas a sociedade é que pode mudar o sistema instrucional. O sistema
educacional pode ter um papel de destaque numa revolução cultural. Ele chama de
revolução a consciente participação do povo. Logo, a pedagogia crítica, como
uma constante, contribui para revelar a ideologia esquecida na consciência das
pessoas. Freire destaca a revolução. Mas o que pode ser feito antes da
revolução? Ele propõe a distinção entre “ação cultural” e “revolução cultural”.
Para ele a ação cultural é desenvolvida em oposição à elite que controla o
poder e a revolução cultural ocorre em completa harmonia com o regime
revolucionário.
Aspira-se
sobre o oprimido e o opressor, no qual o opressor trata o oprimido como
“coisa”, desumanizando-o, e o fazendo sentir-se menos do que ele realmente é.
Faz críticas à educação bancária, em que o professor é o detentor do saber,
sendo um mero transmissor de conteúdo, e o aluno um banco, o qual ele deposita
o conhecimento e depois saca. Mas a grande questão é a aspiração do oprimido
que é a de ser o opressor. Por isso é preciso reconhecer, desvelar e depois
transformar o mundo pela palavra, reconquistando o seu direito ao diálogo. “Ninguém
liberta ninguém, os homens libertam-se em comunhão. ”
Freire
descreve o que ele acredita ser a forma de desenvolver a educação como uma
prática para a liberdade. A mudança acontece pela educação libertadora, que é a
ação de alfabetizar e conscientizar, sendo este um comprometimento político
cultural na alfabetização, por meio de uma ação histórica autêntica e crítica,
que é o ensinar junto ao aluno e não apenas para o aluno. Originado de uma
situação gnosiológica, que é o conhecimento que se adquire por meio da
investigação de temas geradores. A alfabetização brasileira nesta década parte
de um currículo engessado que torna ainda mais desafiadora essa tarefa de
educar para a liberdade. Todavia devemos ter como premissa a realidade dos
educandos e problematizar o mundo deles, pois, assim como afirma Freire, se a
nossa ação estiver sacrificada a palavra será vã, se a reflexão estiver
sacrificada será ativismo.
A ação
e a reflexão da palavra problematizam o mundo e o mundo problematizado o
transforma. Na comunidade carente é assim, primeiro se conhece, por meio da
palavra, do diálogo se aproxima da realidade e experiências vividas, do tema
gerador, no qual deve se embasar nossas estratégias metodológicas para o
processo de conscientização da realidade vivida. Ou seja, os conteúdos e
projetos deveriam ser resultados de uma metodologia dialógica, em que cada indivíduo
do grupo envolvido na ação pedagógica contribui com suas ideias sobre o que se
quer ensinar, ainda que de maneira rudimentar. Sendo este o ponto de partida
para a codificação e descodificação. A educação deve humanizar o educando e
libertá-lo com a práxis, que é o ato de ação-reflexão-ação, por meio do
diálogo, porque não há pedagogia sem transformação.
O
educando é o protagonista, e deve estabelecer uma relação de intercomunicação,
uma prática dialógica que exige coragem, humildade, compromisso e fé. Que é o
crer no outro, poder criar, recriar e transformar. O homem não pode ser
entendido fora de suas relações com o mundo, já que é um ser do trabalho da
transformação deste. Cada educando é um indivíduo único com potencialidades
inigualáveis e com experiências únicas que devem ser ouvidas, analisadas e
consideradas, podendo até ser debatidas em classe para a reflexão coletiva. Na
práxis a dimensão histórica das práticas é um dever e as relações sociais que
são produtoras da sociabilidade humana, sendo estas fundamentais, portanto para
a educação.
Essa
transformação também deve libertar o oprimido de uma cultura escravista e enraizada,
libertá-lo da arbitrariedade do opressor, dando-lhe voz por meio de um diálogo
crítico, que independe do nível de percepção da realidade em que cada sujeito
se encontra, deve buscar a consciência de ser inacabado que é. devendo adequar-se
às suas necessidades reais na sociedade fazendo um movimento constante em busca
da desalienação e humanização.
Sabe-se
que a educação bancária já esteve mais presente, porém ainda são encontrados resquícios
desse ensino depositário no qual formos formados, nos libertamos e hoje somos
agentes de formação e temos como papel fundamental problematizar a realidade de
nossos educandos, visando a educação como prática para a liberdade.
“Não
se trata de autolibertação, mas de homens que se libertam em comunhão. ”
Sem o
diálogo não há compreensão da realidade. O diálogo é capaz de gerar um
pensamento crítico que impulsiona a transformação da vivencia e suas estruturas
sociais, que só acontece quando há o encontro significativo com o outro e
problematização de suas vivencias, no qual se solidarizam. Ele é o elemento
fundamental para uma ação transformadora. A dialogicidade é um ato de amor, que
está em comprometer-se com a sua causa. O amor é um diálogo, que se dá a partir
de duas ou mais pessoas pela palavra. E o amor só existe se neste houver ação e
reflexão para a transformação e libertação!
Finalmente, Paulo Feire (1921-1997) é distinto
educador brasileiro, com atuação e reconhecimentos internacionais. Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de
adultos desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Defensor
dos menos favorecidos, que apoia o acesso à educação conscientizadora (levá-las a entender sua situação de oprimidas e agir em
favor da própria libertação), o direito a fala de todo cidadão, uma
educação moral, que independentemente da ideologia, acredita que todo cidadão é
livre pensante, possuí liberdade em suas escolhas religiosas e nas suas
relações sociais, defende uma educação que liberte a formadora, libertadora e construtora
de conhecimento através do diálogo e respeito. Ele lutou por uma formação
integral do sujeito, do ser humano em toda a sua totalidade.
Possivelmente, na atualidade, ele escreveria
sobre a violência, o feminismo, o “bullying”, os pré-conceitos e corrupção.
Defendendo o pensamento crítico, a liberdade, a ação, reflexão e o respeito,
problematizando essas realidades na sociedade. Seu legado somos nós!